sábado, 18 de abril de 2009

Eco




Através daquele portão, havia um enorme jardim. Um jardim extremamente diversificado. Havia rosas vermelhas, rosas brancas, violetas, girassóis, isso sem falar nas laranjeiras, pitangueiras, bananeiras, e muitas outras árvores e pés frutíferos. Entre todas aquelas árvores e frutas, muitas eram desconhecidas e até mesmo raras, daquelas que poucos podem pagar. Não era um jardim comum, com aqueles típicos anões de jardim. Muito pelo contrário. A decoração ia desde estatuas de ouro até estátuas de gelo que, para não derreter, eram protegidas por um poderoso sistema de refrigeração. Também havia esculturas de ouro, prata, diamantes, adornadas com todo o tipo de pedras preciosas. Para assegurar tudo aquilo, nada melhor do que o mais eficiente sistema de segurança do mundo. Ao entrar naquele grande jardim, chegava-se a um verdadeiro zoológico ao ar livre. Tinha de tudo. Desde avestruzes até micos-leões-dourados. Não havia, é claro, animais de grande porte que pudessem atrair uma atenção indesejada, mas isso não tira o mérito de quem ostentava aquela exuberante fauna. Assim como a coleção de estátuas e esculturas, esses animais eram controlados, monitorados, fiscalizados e assegurados pelo mesmo sistema de segurança. Nada fugia ao controle.
Depois do jardim, havia um grande espaço separando-o de uma imensa mansão. Esta, obviamente, não ficava devendo nada com relação ao jardim. Se o jardim já era exuberante, a mansão era divina. Era enorme, com três andares, hall de entrada, janelas com batentes folhados a ouro ou diamante, portas de cristal, eletrodomésticos de última geração dentre muitas outras coisas. Contudo, para o senhor Francisco Pereira Zuppo, o que mais importava em sua mansão, em sua vida, não eram as preciosidades, mas sim, a segurança daquilo tudo, inclusive dele próprio. Além das câmeras, gravadores e cães, que são o mínimo que qualquer um que queira se sentir seguro com sua fortuna deve ter, havia vários tipos de sensores e detectores. Uns captavam os mais inaudíveis sons, outros captavam a menor variação de temperatura e odor. Havia até sensores de calor e um esquisitíssimo sensor de espectros.
Naquele momento, o senhor Pereira observava, através da varanda de sua mansão, todo o seu patrimônio. Porém, um ruído súbito e desconhecido desviou todas as suas atenções. A primeira providência tomada foi conferir todos os alarmes, detectores e câmeras. Não houve nenhum resultado. O senhor Pereira estava assustado. O ruído por si não era assustador, mas qualquer coisa que perturbasse sua segurança o assustava. Depois que todos os seguranças fizeram a revista e voltaram sem respostas, resolveu procurar por conta própria. Ele não ia admitir que nada, absolutamente nada, abalasse todos aqueles anos de investimentos.
Por mais que ele andasse, seguisse o barulho, o som não mudava, não diminuía nem aumentava de volume. Parecia acompanhar cada passo dele. Mas ele não ia desistir. Nada podia burlar sua segurança. Ele não conseguia entender aquilo. Quando a noite já avançava, com a lua singela e bela em sua formosura, ele se perdeu. A única coisa que sabia, era que estava no jardim. Na altura em que ele já não se sentia seguro, não pôde mais andar, se mexer. Foi aí que ele percebeu tudo. O som vinha de dentro dele. Por mais que tivesse o melhor sistema de segurança do mundo, aquilo que incomodara sua segurança não era algo externo. Era na verdade, ele próprio. Enquanto amanhecia, o senhor Francisco Pereira Zuppo, transformado em uma estátua de pedra, ouvia, além do eco daquele ruído, o canto daqueles alegres e chilreantes pássaros, que pousavam e cagavam naquilo que já fora o seu corpo.

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